Postagem pós "Cisnes selvagens": Monica Ozório

Oi pessoal. Obrigada pela paciência com Cisnes Selvagens. Vi que muita gente passou mal com a crueza da vida na China, e mesmo assim fez o "máximo para ler o máximo" que podia do livro (me senti honrada). Desculpem a indicação. Estou tão acostumada com romances históricos e a consequente visitação à dureza e mesquinhez humana, que nem pensei que seria pesado demais para o grupo. Mas foi muito legal ouvir vocês e lembrar do que li tantos anos atrás. 
De tudo que já li, vejo que a cultura pode ser diferente, mas a maldade humana é igual. Basta ler Defeito de Cor. Brasil. Escravidão. Li há tão pouco tempo com Eloísa e ainda considero um livro como Cisnes. Não é o mais pesado que já li. Juro. Considero livros medianos. 
Ontem mesmo, no restaurado antigo prédio da câmara municipal de Paty de Alferes, tive que segurar o choro quando o nosso guia contava a história de uma das maiores fugas de escravos (antes mesmo do movimento de Zumbi) no E.RJ levantada pelos escravos Manoel Congo (enforcado e esquartejado) e Marianna Crioulla (salva pelos seus senhores que a queriam de volta. Os demais escravos receberam 650 chicotadas. As mulheres, estupradas para "darem cria" para repor as perdas. Mais de 200 escravos tinham tentado fugir.). E sobre a dona de uma fazenda que trouxe para o Brasil as piores ferramentas de tortura da Europa. Tudo igual. Só muda a geografia, época, cultura. Somos uma espécie em uma dura tentativa de evolução moral e espiritual. Uma espécie muito lenta, por sinal. Vide Ucrânia, etc. etc. etc. 
Por isso às vezes preciso sumir e ler livros de diversão como a coleção juvenil de agora que se passa no Brasil dos anos 1990: nossa personagem principal é um favelado de 13 anos do Morro Santa Marta, que é convidado em seu primeiro dia trabalhando no tráfico de drogas, em meio a um tiroteio, para estudar na escola dos bruxos do Corcovado (a escritora de Harry Potter foi consultada antes de Renata Ventura se atrever a trazer uma filial de Hogwarts para cá, pelo que entendi – aliás, como o Brasil é enorme, são cinco escolas, porque cada local tem uma cultura totalmente diferente, por exemplo, a do Sul (toda rígida), e a do Nordeste (vixe, tudo colorido) onde tudo é diferente, até a roupa. O correio no Rio é com pombos sujos que vemos nas ruas (ao invés de lindas corujas inglesas). O jovem convidado é um "favelado" negro, cheio de ódio e estourado (anti herói) que faz coisas horríveis durante seu primeiro ano na escola (tem até cocaína aí, gente!). Mas há uma inclusão de nossa mitologia indígena (os feitiços são feitos em tupi e outras línguas nativas, por exemplo. Temos o Saci, Curupira, boto cor-de rosa, etc. - show de bola). E personagens lutando contra a "europeização" da escola e tentando abrir os olhos dos colegas contra um governo ditatorial com personagens poderosos como um "outro" Ustra (sabemos quem era na vida real, né? NOJO), tortura, tentativa de controle educacional e mental dos alunos, presidente manipulado por pessoas realmente influentes, etc. É juvenil. Tem bobeira? Tem. Mas tenta mostrar alguma coisa do que passamos para a criançada. De maneira lúdica, mas no fim do segundo volume até me choca, pois a autora tenta mostrar nosso passado na ditadura com uma tortura muito triste (calma! Não descreve a tortura do jovem. Mas fala dos ferimentos, e já dói o suficiente! ---- spoiler, mas como vocês não vão ler, "tá tudo de boa, né?"). Me pergunto até se é para jovens mesmo. Tô no terceiro volume. Fazer o quê? Gosto de besteira também. Se eu só ler livro "culto" enlouqueço. Deixa eu viver misturada, gente! Mas não é, INSISTO, uma coleção para o perfil do grupo. Quem sabe para seus filhos adolescentes?????

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O crime do cais do valongo segundo Mônica Ozónio

Um rio chamado tempo, uma casa chamada Terra: Vânia Damasco

Sobre “Bondade”, de Benito Petraglia: Mônica Ozório