O crime do cais do valongo segundo Mônica Ozónio

Achei o livro simples, sem grandes pretensões de ser um marco na escrita sobre a negritude e a escravidão no Brasil. Para mim foi mais como uma forma de homenagear e nos lembrar a importância de um dos cais (ou cases) mais tristes do Brasil (mas não o único, claro), que simboliza uma era de grande vergonha para os brasileiros (e portugueses). Nosso país foi extremamente retardatário para a abolição dos escravos. 
Eu não acredito na bondade humana em relação a isso, no entanto. Nem mesmo na boa fé dos ingleses. A moeda, o ouro, sempre fala mais alto. E se o mal muitas vezes ocorre por ganância, o bem também é feito muitas vezes como "interesse público e humanitário", disfarçando que na realidade a transformação se dá porque há ganhos que suplantam o regime anterior. Podem me achar cínica. Todavia, sei que há o joio e o trigo. Sei que sempre tem alguém que realmente traz algum ideal mais puro no meio dos que se dizem revolucionários, quando na verdade visam novos lucros. A História está coalhada disso. Como apaixonada por história, lendo tanto quanto leio, é o que vejo. 
Achei as personagens leves e adoráveis. Da escrava Muama ao boêmio Nuno. A negra batalhadora Tereza e o doce Marianno. A brava e esperta Roza, o inglês "João" Toole (tão necessário para Muama tudinho para nós) e a danadinha da Emerenciana. Umpulla foi o retrato dos negros fortes e bravos que vieram ao Brasil sob o chicote. Até do patético intendente Fernandes Viana gostei. Nem tanto do pulha do Bernardo, tão nojento. Porém sem ele o livro não existiria. Precisávamos de um cadáver, afinal. Como eu disse, achei o livro leve e sem grandes compromissos em estremecer o mercado brasileiro de literatura voltada para a época da escravatura brasileira. Mas me divertiu. E com ajuda dos nossos eméritos colaboradores Cláudia e Rafael, tivemos um bocado de riquezas agregadas à leitura.

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