Imperatriz de Ferro (Jung Chang): Mônica Ozório




Acabei de ler a Imperatriz de Ferro (Jung Chang). Fascinante, mas é uma biografia pesada, e tive que parar de tempos em tempos para ler parágrafos de um livro engraçadinho (mas ordinário) escrito por um médico de quando era residente no "SUS" da Inglaterra (NHS - excelente, por sinal, mesmo com mil defeitos. Faz o daqui parecer medieval). Fica óbvio que ele só escolheu as partes engraçadas e semi engraçadas devido ao lapso de tempo entre uma historinha e outra do seu diário, mas eu ia lá, ria, relaxava e voltava para a imperatriz viúva. Um livro bobo ajudando a ler um livro cuja cultura é totalmente diferente da nossa.

Absolutamente fantástico e interessante. Essa mulher, que era concubina do Imperador (as concubinas eram esposas legalmente falando. Havia uma que era escolhida para ser Imperatriz e administrar o harém para não haver brigas, disputas, manter a harmonia, etc.), conseguiu dar um golpe após sua morte (com a ajuda da Imperatriz – aí passamos a ter duas imperatrizes viúvas) e assumir o comando da China por trás do filho imperador (incompetente para lidar com um país gigantesco como a China, e ainda por cima com o título de Imperador de uma minoria Manchu, em face de uma maioria Hans que teria muito mais direito ao comando do Estado).

Entre percalços gigantescos, Cixu conseguiu em quarenta anos transformar uma China medieval, com 99% de analfabetos e fechada ao mundo exterior em um país com escola, faculdade, luz, ferrovia, uma marinha forte, abertura de portos, etc. Ao final estava já montando a mesma estrutura política da Inglaterra, com parlamento. Sim. A China é vagarosa. Vamos respeitar aqui sua cultura milenar e crenças totalmente diferentes da ocidental, por favor.

Não foi fácil e teve vários lapsos em que ela não regia o país e os herdeiros fizeram besteiras terríveis, como acordos com o Japão e outros países, que levaram a China à terríveis dívidas externas, perda do que tinha sido modernizado, e ao risco do domínio japonês (que acaba ocorrendo após a morte dela, pelo que é deixado a entender no livro ---- nesse ponto a Coréia de Sunja já era dominada pelo Japão). 

Cixu lutou muito para que a Rússia e outros países europeus não dividissem a China em pedaços de pizza a serem divididas entre eles. Uma indecência dessas potências. Os EUA foram os que mais ajudaram a evitar mais catástrofes na China. A Inglaterra também ajudou um pouco, mas não tanto, mesmo com a Rainha Vitória estando no "poder" (uma mulher entendendo outra mulher e as dificuldades de seu gênero comandar um país).

Enfim. Depois de um século de maledicências vindas de falsas notas e biografias não verdadeiras sobre essa mulher extraordinária, escritos por homens que odiavam ter uma mulher no poder (as mulheres não podiam sequer aparecer na frente dos homens, que dirá governar um país), a verdade sobre essa estadista nata finalmente  veio à luz através de documentos mais recentes mostrando que ela de fato era boa, correta, queria um país unido e mais moderno e apesar de erros (que ela assumia publicamente), desejava e conseguiu modificar e fortalecer a China para ser uma país independente, próspero e moderno. 

A dinastia Manchu morreu logo em seguida, com seu sucessor, como ela previra no leito de morte. E o pior ocorreu: o Japão invadindo, e em seguida a catástrofe maior: Mao Tsé-Tung queimando livros e incentivando os jovens a abandonarem os estudos e se dedicarem aos campos (mais fácil dominar os iletrados, não é? Fechando as escolas e faculdades). Um déspota ignóbil, pelo que li em Cisnes Selvagens - Três Filhas da China, e que pretendo conhecer melhor com o livro da mesma autora sobre esse ser tão horrendo quanto todos os déspotas da História.


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